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Cybercultura




C
omo consequência da globalização temos a massificação dos meios de comunicação: rádio, TV, Jornais, revistas e etc. E ao adota – los como meios de lazer, a indústria cultural passa a produzir qualquer banalidade em grande escala, qualquer coisa que de dinheiro a eles. E para que eles tenham seres passivos e consumistas é preciso extinguir ideias, culturas, refazer hábitos. Dessa forma criam seres consumistas cuja consequência é uma massa alienada, e sem incapacidade de julgar e desenvolver senso critico. 

Não sei ao certo quem inventou a TV, pois, esta ideia passou pelas mãos de vários físicos, químicos e cientistas. Mas no século XIX já havia uma “preocupação” por parte dos cientistas em construir algo que transmita imagens lugares diferentes, mas este instrumento só foi inaugurado anos mais tarde. Por isso afirmo que, os inventores já sabiam o efeito que este aparelho causaria na sociedade.

No Brasil no inicio do século XX São Paulo tinha um fraco desenvolvimento industrial em função da riqueza acumulada pela produção cafeeira. A cidade foi palco de manifestações culturais. Então se tinha muitos artistas e críticos, escrevendo livros e musicas com criticas voltadas para a sociedade, era comum encontrarmos nas obras temas como: nacionalismo, a preocupação com o desenvolvimento social, solidariedade à igualdade social era um movimento de ruptura com a tradição clássica da arte.

E neste período de 1922 a 1980 temos o surgimento de vários artistas: Noel Rosa, Pixinguinha, Vila – Lobos, Chico Buarque, Gilberto Gil, Caetano Veloso. Na pintura temos: Tarsila do Amaral, Anita Malfati. No cinema: Charlie Chaplin, Friench Murnau (nosferatu), Cidadão kane. Na literatura: Carlos Drummond, Jorge Amado, Oswald Andrade, Manuel Bandeira, Cecilia Meireles entre outros. Portanto as pessoas que tinham acesso a estas obras, adquiria um senso critico.

As musicas eram constituídas por poesias, contextos políticos da época, metáforas, enfim, mostrava a cultura brasileira. Diferente da maioria das musicas contemporâneas o homem declarava o seu amor pela mulher de uma maneira delicada, profunda. Para que isso fique mais claro Peguemos a letra da musica Chão de Giz de Zé Ramalho onde ele fala de um amor não correspondido:

“Disparo balas de canhão
É inútil pois existe um grão-vizir
Há tantas violetas velhas sem um colibri
Queria usar, quem sabe, uma camisa de força ou de
vênus
Mas não vou gozar de nós apenas um cigarro
Nem vou lhe beijar, gastando assim o meu batom

Agora pego um caminhão, na lona vou a nocaute outra
vez
Pra sempre fui acorrentado no seu calcanhar

Meus vinte anos de boy, that's over baby! Freud
explica
Não vou me sujar fumando apenas um cigarro
Nem vou lhe beijar gastando assim o meu batom
Quanto ao pano dos confetes, já passou meu carnaval
E isso explica por que o sexo é assunto popular.”



Agora pegarei a musica Camaro Amarelo de Munhoz e Mariano e é o mesmo tema: um amor não correspondido.

“Agora eu fiquei doce, doce, doce, doce.
Agora eu fiquei dodododo doce, doce.

E agora eu fiquei doce igual caramelo,
To tirando onda de Camaro amarelo.
E agora você diz: vem cá que eu te quero,
Quando eu passo no Camaro amarelo.

Quando eu passava por você,
Na minha CG você nem me olhava.
Fazia de tudo pra me ver, pra me perceber,
Mas nem me olhava.

Aí veio a herança do meu véio,
E resolveu os meus problemas, minha situação.
E do dia pra noite fiquei rico,
To na grife, to bonito, to andando igual patrão.

Podemos ver claramente em cada musica como o autor se refere à mulher, apesar de naquela época (desde á baixa idade média até o final do século XX) o machismo predominar, a primeira música Zé tem um amor não correspondido, ele cita até Freud para dizer o quanto este amor era complexo, ao ver que a mulher não quer nada além de sexo com ele, o próprio decide partir, ir embora para se livrar desse amor que o acorrenta, está presente também à utilização de metáforas como: “Há tantas violetas velhas sem um colibri” para dizer que á tantas mulheres velhas, porém, bonitas, sem um jovem que a ama ao teu lado (colibri)… Ele utiliza o termo: “Não vou me sujar fumando apenas um cigarro” para se referir de sexo. Na segunda musica o autor também tinha um amor não correspondido, mas ele ficou rico e de repente a mulher passou a amar ele, ele fica “doce”, ou seja, “não me rele não me toque”. Nesta musica já mostra que a mulher é interesseira (em 1978 em cidades do interior era comum os pais arrumarem casamentos para suas filhas, e como a mulher não trabalhava ela teria que casar com um homem rico que a sustentasse, isso no contexto da musica de Zé Ramalho. Mas hoje os tempos mudaram as mulheres são independentes trabalham fora, então não faz sentido a segunda musica generalizar que a mulher só quer um “cara” rico). E se o rapaz da segunda musica gostava da moça, cadê o amor? Só porque ele ficou rico o amor acabou? . Termos como: le le le, tchu tcha, toy toy toy são utilizados para falar sobre sexo, enquanto se pegarmos a musica flor da idade de Chico Buarque ele utiliza o termo: “a gente coça, se roça e só se vicia”. A cultura industrial está fazendo com que as musicas fiquem muito vulgares para falar de amor e sexo.

Também era comum musicas de protestos, riquíssimas em contexto políticos e para este exemplo usarei uma musica que o professor Rosevaldo[1] trabalhou conosco em sala, o nome da musica é Cálice, uma composição de Chico Buarque e Gilberto Gil.

“Pai! Afasta de mim esse cálice
Pai! Afasta de mim esse cálice
Pai! Afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue

Talvez o mundo não seja pequeno (Cale-se!)
Nem seja a vida um fato consumado (Cale-se!)
Quero inventar o meu próprio pecado (Cale-se!)
Quero morrer do meu próprio veneno (Pai! Cale-se!)
Quero perder de vez tua cabeça! (Cale-se!)
Minha cabeça perder teu juízo. (Cale-se!)
Quero cheirar fumaça de óleo diesel (Cale-se!)
Me embriagar até que alguém me esqueça (Cale-se!)”

As musicas contemporâneas também são cheias de contextos políticos, só que ao invés de protestar elas fazem uma apologia ao capitalismo, são letras recheadas de marcas de luxo. O trecho a seguir é da musica Top do momento do Mc Danado.

“Vida é ter um hyundai e uma hornet
10 mil pra gastar rolex e juliet
Melhores kits, varios investimento
Ai como é bom, ser o top do momento (2x)

Chega final semana de dia praia e de noite balada
Então pegue o gascan, oakley portando
Pesado de ouro, pesado de prata
Tem que ser zika do baile
Mandar no freestyle, mlk pentelho
Pescoço das novinhas entorta
Pro zika que porta que usa aparelho
É ostentação que elas quer ?
É o luxo que elas vai ter
Viu meu bonde embrazar r1
Sente o ronco da minha xt
De rolé nois ta de santa fé
Se ta sol nois ta de repsol
Porque eu sou rei da balada
Como o pelé era rei do futebol
Juliet romeo 2
De ferrari ou doce gabanna
É meu jeito ruim que elas gosta
É do meu malote que elas se apaixona...”

Na musica Cálice, Chico Buarque e Gilberto Gil utilizam metáforas (de trechos bíblicos) para narrar á opressão causada pela ditadura no Brasil. O termo cálice ali usado mostra a ambiguidade da palavra “cálice” em relação ao imperativo “cale – se”, mostrando a atuação da censura no período do regime militar, a musica retrata o sangue derramado devido às torturas, o eu - lírico expressa a vontade de se libertar de toda essa repressão.

o funk Top do momento incentiva o consumismo, reparem em quantas marcas famosas se tem na musica: Hyundai, Hornet, rolex, gascan, Oakley, r1, xt, repsol, Ferrari, gabbanna, santa fé… onze marcas famosas que não saem por menos de mil reais cada uma, imagina uma criança ouvindo isso?! Ela irá crescer pensando: “para eu ser o “cara” do momento e ter todas as “novinhas” terei que ter tudo isso, além de dez mil todo final de semana para gastar nos bailes funks”.

O funk carioca surgiu para acompanhar o declínio da população, já que o essencial é algo invisível aos olhos humanos, às pessoas só veem aquilo que querem e que lhe é passado e nada, além disso, por isso nas letras de funk como qualquer outra musica contemporânea não há presença de metáforas, mas sim do vocabulário chulo que é algo que não necessita ser interpretado e é fácil de memorização, assim cai no gosto do “povo”.

Mas o povo brasileiro naquela época não tinha interferência alguma da indústria cultural, o único fator que fazia a maior parte das pessoas não terem o senso critico era o pensamento machista da época e claro a visão da Igreja Católica.

Em 1950 surgiu a TV no Brasil e então tivemos cinema, rádio, teatro e etc. no inicio era algo mais cultural do que alienante já que apareciam apenas ideologias de guerra, naquela época pós – Segunda Guerra Mundial, eles queriam aliados para a guerra fria e a ditadura no Brasil. A politica e a ciência passa então a ser utilizados como forma de alienação, impedindo com que as pessoas enxerguem o seu estado de realidade.




[1] Professor de história da escola Maria do Carmo Barbosa e do Cursinho Gauss